Júlio Furtado
Publicado no Jornal O DIA/RJ
Tenho assistido, com certa frequência, uma campanha publicitária do Governo Federal em que atletas reverenciam seus treinadores, afirmando que são responsáveis pelo seu sucesso. Logo a seguir, informam que os professores, em média, gastam 20% do tempo de suas aulas chamando a atenção dos alunos e finalizam com um apelo: “Respeitem seus professores! ”. Numa primeira análise, parece uma campanha pertinente e necessária, uma vez que a indisciplina tem sido um dos maiores problemas enfrentados pelos professores nos últimos tempos. A campanha, porém, aborda a questão de forma simplista e parcial e por isso, faz-se necessária uma análise mais aprofundada da situação. Vale relembrar que respeito vem do latim respectus e significa ter apreço, consideração, deferência por uma pessoa, objeto ou situação. Em sua origem, a palavra respeito significava “olhar outra vez”. Por isso, algo que merece um segundo olhar é algo digno de respeito. Respeito pode ser definido como uma atitude de admiração que se demonstra ou se sente por uma outra pessoa ou coisa que é confiável, que possui boas qualidades ou ideias e é apreciável. De volta à campanha publicitária, percebemos que a situação é parcializada, colocando como solução a simples tomada de consciência por parte dos alunos. Uma pergunta veio-me de imediato à mente e não quis mais calar. O apelo de respeito ao professor não deveria ser feito primeiramente ao próprio governo, que falha continuamente na sua obrigação de garantir condições e estruturas dignas para que o professor possa realizar sua tarefa com qualidade e equilíbrio próprios de uma relação de respeito? É mais fácil convencer a população que a questão se trata apenas da falta de consciência dos alunos em respeitar os professores. É importante ressaltar que não estamos aqui, reforçando a ideia de que o desrespeito dos alunos é somente consequência da atuação do professor. Sabemos que a gestão da disciplina é um processo complexo que não ocorre sem a mobilização de toda a escola, incluindo os pais. O que quero focar é o perigo da redução ideológica de um contexto que precisa ser decomposto e explicitado para que possa ser gerido. Comovente campanha, mas o recado é, em primeiro lugar para o Governo: respeitem os professores!