Júlio Furtado é professor e escritor.
A partir da ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos surgiram novas possibilidades de organização do Ensino Fundamental. Uma das formas mais discutidas e adotadas por várias redes de ensino foi o Bloco inicial de alfabetização, formado pelos três primeiros anos (recentemente foi alterado para dois) desse nível de ensino. O principal argumento é o fato de que a criança precisa de três anos para adquirir um nível satisfatório de compreensão e interpretação. Os sistemas de ensino não podem reprovar dentro do Ciclo de Alfabetização e oferecer ao aluno subsídios e condições para que aprendam a ler, interpretar e escrever textos de forma efetiva. Em boa parte das cidades, porém, o tiro saiu pela culatra. O que era uma ação a favor da aprendizagem das crianças tornou-se um martírio para os professores que acabaram adotando duas posturas básicas: tentar desesperadamente nivelar os alunos ou ignoram solenemente os que não acompanham, criando um gargalo de reprovação em massa do terceiro para o quarto ano. Os adeptos da primeira postura estão adoecendo e os da segunda, estão colaborando para que o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) das séries iniciais não atinja as metas nessas cidades. Para que o Ciclo de Alfabetização funcione, os professores precisam de apoio logístico, pois a Pedagogia Diferencial ainda não é uma realidade prática. É preciso acompanhar a aprendizagem de forma individualizada e oferecer a cada um o que necessita no seu estágio de desenvolvimento. Isso exige turmas pequenas e suportes de material e novas metodologias. O que não podemos é achar que a simples reprovação nos três primeiros anos do Ensino Fundamental vai resolver o problema. Reprovar nos anos iniciais é ir contra a natureza do desenvolvimento cognitivo da criança que não ocorre com hora marcada e nem mantém exata relação com a idade cronológica. É possível provocar o desenvolvimento da criança através de atividades dirigidas, porém isso ocorre em tempos diferentes. No início do processo de escolarização, o desenvolvimento biológico da criança precisa ser levado em conta. Não fazer isso é equivalente a “reprovar” uma grávida para que ela “repita” os primeiros meses de gravidez. O que se faz é reforçar as vitaminas nos meses seguintes.