Em dado momento de uma palestra para docentes em uma escola privada, uma professora perguntou: “O que o senhor acha de uma mãe que envia um bilhete para a professora, dizendo que não quer mais que seu filho faça trabalhos em grupo na escola, pois os colegas nunca concordam com o que ele sugere?” Após alguns segundos de silêncio e imaginando que tal fato teria ocorrido naquela escola, perguntei qual tinha sido a resposta dada à mãe. Ela chamou a mãe e juntamente com a coordenadora pedagógica, explicaram que as atividades em grupo eram parte da proposta pedagógica da escola e que o aluno teria que desenvolver habilidades de interação em grupos, de forma a defender suas ideias e convencer os colegas. Mais tranquilo com a resposta, pude reforçar o papel da escola como instituição educadora no contexto social e coletivo, o que muitas vezes se choca com as crenças dos pais. Reforcei também a importância da escola deixar muito clara sua Proposta Político-pedagógica para os pais.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) deixa claro em seu artigo 12 que toda escola precisa ter sua proposta pedagógica, contendo os objetivos, os valores, o currículo e os métodos em que a escola acredita e trabalha. Essa proposta precisa ser amplamente divulgada para os pais de forma a não deixar dúvidas a respeito do tipo de educação que a escola oferece. No caso das escolas particulares, a assinatura de um contrato de prestação de serviços oficializa a concordância dos pais com a proposta da escola. A falta de clareza nessa relação pode ocasionar atitudes como a citado no bilhete da mãe.
A escola fornece um serviço totalmente diferente de um salão de beleza, por exemplo, que pode até advertir de que um tom muito claro não vai cair bem, mas no final das contas está ali para satisfazer a vontade da cliente, caso ela insista. A escola precisa esclarecer a sua proposta e deixar claro quais “tinturas” são usadas ali e quais não são usadas e que, em alguns aspectos não haverá concessões para satisfazer o “cliente”. Ao matricular os filhos numa escola, os pais precisam confiar na Proposta da escola e estarem dispostos a serem “desagradados” em nome dessa confiança. Por isso, precisam conhecer e analisar a proposta pedagógica da escola antes de matricular seus filhos. As escolas, por sua vez. precisam entender que o sistema self-service não se aplica a elas.