PROTEGER E CUIDAR
Talvez o amor mais difícil de ser colocado em prática seja o amor dos pais pelos filhos. Falo da dificuldade de sua prática dentro dos parâmetros equilibrados, saudáveis e educativos já que para isso precisamos amar com equilíbrio e bom senso. Certa vez uma amiga definiu seu amor de mãe como um amor que lhe dava medo, de tão grande. Diante desse amor sem limite de tamanho, o maior risco é não atentarmos para o desenvolvimento de limites, essencial para a formação de um adulto autônomo e autorregulado. Outro grande risco desse amor é o perigo das projeções. Nossos filhos são outras pessoas, com vidas próprias e não vieram ao mundo para satisfazer nossas expectativas e frustrações. Planejarmos as suas vidas nos mínimos detalhes só vai tirar deles a possibilidade de descobrirem quem realmente são. O verdadeiro amor respeita a natureza do outro, seja ela qual for. Nossa grande lição é aprendermos a cuidar mais do que proteger.
Proteger pressupõe tomar decisões pelo outro sob o argumento de sabemos o que é melhor para ele. É claro que nos primeiros anos de vida, precisamos proteger nossos filhos quase vinte e quatro horas por dia. O perigo é não percebermos em que momento a proteção precisa se transformar em cuidado. Cuidar é deixar o outro caminhar, escolher, decidir sem abandoná-lo. Cuidar exige que estendamos a mão para qualquer dificuldade ou emergência, mas deixemos que eles escolham e vivenciem as consequências de suas escolhas. A bicicleta com rodinhas laterais é um bom exemplo de proteção. Ao tirarmos as rodinhas, estaremos expondo-os ao perigo, que pode ser minimizado ao escolhermos um local seguro e fazermos com que usem capacete e joelheiras. Estar ao seu lado dizendo que podem se arriscar, pois você estará ali caso eles precisem é puro cuidado. Cuidar educa, proteger cria dependência.
Quando a criança cair, cuide ao invés de proteger. Mande-a levantar e vir até você. Ela pode estar com um joelho ralado ou com um dedinho torcido, mas é essencial que ela aprenda a levantar sozinha, mesmo sentindo dor. Ela terá que fazer isso diversas vezes ao longo da vida e é um ato de amor treiná-la por mais difícil que nos pareça. Cuidar dos filhos é como simular a vida sob nossa supervisão para que quando eles tiverem que enfrenta-la sozinhos não se desesperem e não sofram tanto. Proteger prende e amarra. Cuidar é criar para o mundo.