Facilitar a aprendizagem é uma atitude que depende da compreensão sobre como o outro funciona, como ele percebe, elabora e representa o mundo. É necessário que nós, professores, façamos uma “viagem” essencial ao mundo dos nossos alunos para que possamos senti-lo, percebê-lo e enfim, compreendê-lo. Essa compreensão é fundamental para que possamos realizar a mediação didática que consiste na tarefa de “traduzir” o conteúdo para que o aluno possa aprendê-lo.
Esse movimento de “visitar” o mundo do aluno precisa ser feito sem que abandonemos o nosso mundo, sob pena de perdermos nosso referencial intencional didático. A isso chamamos empatia, a habilidade de ver com os olhos do outro, sem perdermos os referenciais da nossa realidade, é a habilidade de enxergarmos o mundo o mais próximo possível da forma como os outros enxergam. Paulo Freire é perfeito em sua definição de empatia no contexto da sala de aula quando afirma que o professor deve “pegar os olhos do aluno emprestados” para que ele possa perceber de fato com que realidade ele está interagindo. Na medida em que “pegamos os olhos do outro emprestados”, conseguimos compreender melhor suas opiniões e podemos avaliar melhor a pessoa, a coisa, o fato ou a relação presentes no conteúdo que está sendo ensinado. É dessa forma que ampliamos o sentido que damos à realidade e é essa a essência do crescimento humano: ampliar e aprofundar, cada vez mais, o sentido que temos do mundo. Quanto mais acrescentamos novos significados a nossa forma de ver o mundo, mais “inclusiva” se torna a nossa percepção e mais empáticos nos tornamos. O ato de aprender depende diretamente desse movimento de “inclusão perceptiva” e o papel do professor é, também, facilitar esse processo.
É em função da nossa forma peculiar de perceber a realidade que precisamos “alinhar percepções”, que significa reduzir ao mínimo as discrepâncias perceptivas com relação à interpretação que temos de pessoas, coisas, fatos e relações. Quantas vezes temos que enfrentar conflitos em função das diferentes maneiras através das quais vemos uma mesma situação? O que nos faz ver de forma diferente é o nosso “filtro perceptual”. Dele, fazem parte nossos valores e nossas crenças, adquiridos através de nossas experiências, que são fruto da forma através da qual interagimos com pessoas, coisas, fatos e relações ao longo da nossa vida. O filtro perceptual é a nossa marca registrada, é a nossa forma individual de ver a realidade, que expressa os nossos paradigmas e o professor deve ter a atenção redobrada com relação a isso sob pena de reproduzir automaticamente a relação de imposição epistemológica que em geral, sofreu em sua história escolar. Ser empático é atitude essencial para que possamos proporcionar uma reconstrução coletiva do conhecimento e minimizar os ruídos que possam ocorrer na relação professor-aluno-conhecimento.
Júlio Furtado – Texto publicado na Revista Língua Portuguesa, edição de abril/2014.