Júlio Furtado
(artigo publicado na revista Gestão Educacional)
A aprendizagem do aluno é um processo diretamente ligado a três instâncias: a ação do aluno, a ação do professor e a ação da escola. Quando o aluno não aprende, podemos dizer que essas três instâncias dividem a responsabilidade. A ação do aluno pode ser gerida através do processo de avaliação da aprendizagem, que visa, num primeiro nível, detectar o que foi aprendido. A ação do professor é objeto do processo de avaliação do desempenho docente que tem, na sua essência, o objetivo de detectar o quanto as atitudes do professor potencializam ou não a aprendizagem do aluno. Por fim, a forma de funcionamento da escola como um todo é outro fator corresponsável pelo quanto um aluno aprende. Avaliar a efetividade dos processos que compõem a escola e a forma como eles se inter-relacionam é o principal foco da avaliação institucional. O gestor escolar precisa estar atento à gestão dos três níveis de avaliação e deve construir um plano de execução e acompanhamento de cada instância. Especial atenção, porém, deve ser dada à avaliação do desempenho docente, em função da complexidade dos elementos envolvidos e das relações que o compõem. Avaliar o desempenho de professores não é tarefa fácil em basicamente todos os países. Alguns, poucos, por já terem construído uma história de tentativas e aperfeiçoamentos já lograram algum êxito no que diz respeito à composição e gestão do processo. Algumas lições importantes podem ser aprendidas a partir das experiências mais efetivas e podem compor um conjunto de atitudes e ações recomendáveis a um processo de avaliação do desempenho docente às quais os gestores educacionais devem estar atentos ao implementarem tal processo. A primeira questão diz respeito à utilização do rendimento dos alunos como parâmetro exclusivo de avaliação do desempenho docente. Já sabemos que a aprendizagem do aluno depende de diversas variáveis, dentre elas do repertório cultural que com o qual chega à escola, que por sua vez está ligado ao nível socioeconômico. Outra variável é a infraestrutura e a disponibilização de recursos de aprendizagem. A ação do professor é a principal variável da aprendizagem do aluno, mas está longe de ser a única. Outra questão fundamental diz respeito à utilização de vários instrumentos de avaliação. Dentre os que se mostram efetivos, destacam-se a avaliação entre pares, em que um professor acompanha e avalia a ação de outro, a observação de aulas pelo coordenador pedagógico, a elaboração de portfólios e planos de aula, a análise de aulas filmadas e a elaboração de planos de aperfeiçoamento. A experiência mostra que conjugar vários instrumentos é essencial para uma avaliação mais justa. Um componente fundamental de uma avaliação do desempenho docente é estabelecer a participação dos avaliados na definição de critérios e metas. Esse passo é essencial para que o corpo docente apoie a avaliação, encarando-a como uma oportunidade pedagógica e não como uma ameaça. A condução do processo deve ser transparente e os resultados precisam alimentar uma estrutura de apoio e de formação continuada. Somente dessa forma, os professores não se sentirão ameaçados e os comportamentos de resistência serão minimizados. Outros cuidados essenciais a serem considerados são evitar que a atividade seja percebida pelos professores como um mecanismo de controle e levar em conta o contexto vivido pelos docentes juntamente com as experiências bem-sucedidas já realizadas. O gestor escolar precisa se apoderar da gestão desse processo, encarando a avaliação do desempenho docente com a devida seriedade e cuidado que a atividade exige, pois disso depende a efetividade da melhoria contínua da ação docente na escola, o que somente ocorrerá se os resultados forem colocados a serviço da melhora do desempenho.