Artigo do prof. Júlio Furtado, publicado na Revista Gestão Educacional.
A gestão de uma escola é composta de três grandes processos que precisam ser geridos com igual atenção e dedicação, pois quando um deles não funciona, toda a efetividade da escola é afetada. Estamos falando do processo de gestão administrativa, do processo de gestão pedagógica e do processo de gestão da sala de aula. A gestão administrativa diz respeito à racionalização dos recursos materiais e financeiros de forma que toda a escola possa funcionar o mais plenamente possível. A chave da boa gestão desse processo reside na capacidade de previsão, otimização e planejamento. A gestão pedagógica é o processo que faz a relação ensino-aprendizagem funcionar dentro das expectativas do Projeto Político-pedagógico da escola. Sua efetividade baseia-se, essencialmente, na compreensão e envolvimento do corpo docente com os valores e propostas que o compõem. A tríade que compõe uma gestão escolar efetiva se completa com a gestão da sala de aula. Consideramos a gestão da sala de aula como o conjunto de medidas que garantem uma aprendizagem significativa. Essa gestão envolve três sub processos que se inter-relacionam intrinsecamente: a gestão da aprendizagem, a gestão da conduta e a gestão da interação cultural. O professor, enquanto gestor da sala de aula, precisa apoderar-se, através de formação continuada, dos conhecimentos e habilidades necessários ao bom exercício de seu papel. A gestão da aprendizagem volta-se para as ações de mediação, ou seja, o que o professor precisa fazer para que o aluno aprenda o conteúdo. Nesse processo, conhecer a fundo o conteúdo e sua estrutura é fundamental para que o professor tenha condições de mapear o que é relevante, mediar conflitos de interesse e tecer relações de forma contínua. Planejar e avaliar os momentos de aprendizagem são dois aspectos fundamentais que, em geral são tão mais efetivos, quanto maior é o nível de interação cultural que existe entre professor e alunos. A concepção que o professor tem de aprendizagem é outro fator determinante de uma efetiva gestão da aprendizagem. Partimos do princípio que, essencialmente, o professor precisa perseguir a aprendizagem significativa e, dessa forma, precisa voltar seus esforços para que o aluno construa sentido sobre o conteúdo e para que esse sentido se converta em significado. A interação cultural entre professor e alunos mais uma vez figura como essencial para que o professor facilite a construção de sentido, já que tal processo é fruto da relação entre o conteúdo novo e o repertório cultural dos estudantes. A conversão do sentido em significado, que é o conceito socialmente aceito e cientificamente comprovado, dependerá da maior ou menor habilidade do professor em fazer mediações didáticas. Outro sub processo da gestão da sala de aula é a gestão da conduta. Há um consenso entre os educadores de que a disciplina é necessária para que a aprendizagem ocorra da maneira satisfatória. A questão central nesse aspecto é o que entendemos por disciplina. Caso o professor tenha uma concepção de disciplina como algo unilateral, fruto da idealização de comportamentos preconcebidos, fazer a gestão da conduta resumir-se-á a estabelecer um conjunto de regras e procedimentos dos quais não se poderá fugir e, caso ocorra, deixar claras as punições. A experiência mostra, porém, que tal concepção não é efetiva na realidade da escola e dos alunos no mundo de hoje, o que nos leva a concluir que fazer gestão da conduta é implementar um processo educativo e participativo de tomada de consciência e de desenvolvimento da autonomia. Finalmente, a gestão da interação cultural fecha o processo de gestão da sala de aula. Gerir a interação cultural é fazer com que os alunos nos vejam como pessoas e, ao mesmo tempo, percebê-los da mesma forma. Isso depende de diálogo, de real interesse pelo outro, de validação do repertório cultural que o outro traz. Acreditamos que esse processo é central para a efetividade da gestão da aprendizagem e da conduta.