Júlio Furtado
A visão perfeccionista construída a partir do paradigma cartesiano nos fez acreditar que onde existe erro não existe acerto e vice-versa. As Ciências, “contaminadas” por esse paradigma, configuraram-se nas maiores reprodutoras do preconceito contra o erro e a escola, instituição responsável pela formalização do processo ensino-aprendizagem dessas mesmas Ciências, estruturou-se coerente com as crenças e os valores que segregam o erro do contexto da aprendizagem. Vive-se de forma coerente com a crença de que erro é algo que se esconde, que se disfarça, que não se deve cometer. O que chama a atenção no contexto em pauta é o fato de essa concepção estar tão fortemente internalizada pelos professores. Esse fato remete imediatamente a algumas perguntas: como esses professores encaram o erro de seus alunos? Como se sentem diante do fato de um aluno errar? Como compreendem a função do erro no processo de aprendizagem? É sobre esses questionamentos que se pretende refletir a partir desse ponto, pois é incontestável que erros e acertos precisam conviver nas situações concretas de ensino-aprendizagem. Muito tem-se discutido sobre o sentido do erro no processo de aprendizagem. Algumas correntes pedagógicas consideram o erro como o “não certo”. Outras, acreditam que o erro faz parte do processo de ensino-aprendizagem sendo caracterizado como uma etapa da aprendizagem sistemática. Na escola, o erro é personagem principal (como vilão, é claro!) da novela chamada Avaliação da Aprendizagem. O erro é fruto da análise do professor das respostas dos alunos, em termos de certo ou errado, o que revela o tanto que ainda se cultua a pedagogia da resposta, que por sua vez expressa o quanto ainda estamos, como bem definiu Paulo Freire, na Era da educação bancária. Paulo Freire propõe, como antídoto à pedagogia da resposta, que o ensino se oriente na direção de uma educação libertadora, que muda o foco cartesiano da resposta certa, para o foco libertador de um ensino que estimule a pergunta e que desenvolva a curiosidade de aprender. Paulo Freire propõe que o professor mude sua atitude frente ao erro, e passe a considerá-lo uma “forma provisória de saber”. Essa mudança de atitude pressupõe encarar o erro como objeto de discussão e compreensão dos saberes que o educando traz consigo para as situações formais de aprendizagem. Tal postura implica, obrigatoriamente, o rompimento com relações fundadas numa educação na qual o acerto está ligado à exata correspondência da resposta prevista pelo educador. Dessa forma, é essencial, que no processo de construção dos conceitos pela criança, os erros sejam considerados como degraus para futuros acertos. Estes erros, na verdade, estão indicando o que a criança está pensando e é nisso que o professor deve deter-se: no pensar do aluno, afim de compreendê-lo e, assim, poder desafiá-lo a encontrar outras respostas. É função do professor fazer as intervenções necessárias, a partir da zona de desenvolvimento proximal do aluno, no sentido de promover sua “passagem” da condição atual para uma condição desejada. Para se tornar um verdadeiro mediador entre o aluno e o objeto de conhecimento, o professor precisa ressignificar a avaliação no sentido de torná-la um processo de compreensão da aprendizagem do aluno e reelaboração de seu próprio plano de ensino. Fundamental se faz para que construamos uma real aprendizagem a partir dos erros que se oportunize a expressão do aluno na busca de soluções intuitivas, raciocínios novos e recriação de suas hipóteses.