Júlio Furtado
O desfecho previsível e porque não dizer previsto do descredenciamento da Universidade Gama Filho e da UniverCidade no Rio de Janeiro acende a velha chama de que estamos vivendo uma crise no ensino superior. Essa crise é real só que ela existe há pelo menos duas décadas que é o tempo em que estamos difundindo o tipo de gestão baseada no discurso neoliberal. Esse contexto fez com que o governo brasileiro entrasse na Era dos novos financiadores e provedores de serviços. Mas para que isso acontecesse, o Brasil teve que promover a privatização de alguns setores públicos e a liberalização e desregulamentação do mercado o que tornou o cidadão comum, em alguns casos, um “largado à própria sorte”.
Contraditoriamente, não observamos nas duas últimas décadas, melhora nos serviços públicos, que continuaram a ter estruturas precárias, condições de salário insatisfatórias e a falta de financiamento público para pesquisas. Essa tendência opõe-se à consolidação de um sistema voltado para a democratização da sociedade e para um desenvolvimento mais autônomo do sistema universitário. O sistema de educação superior brasileiro entrou na lista dos serviços e passou a contar com a influência dos organismos internacionais, do mercado financeiro, dos grandes grupos educacionais e com a crescente participação do capital estrangeiro. O Governo, na figura do MEC vem acompanhando passivamente esse fenômeno emitindo, no máximo, algumas ameaças de apertar o cerco na supervisão das instituições. Hoje, em termos de garantia governamental, é mais seguro contratar os serviços de uma operadora de celular do que se matricular numa universidade privada.
Fatos como esse são um convite ao surgimento de soluções mágicas que só servem para mascarar e desviar o foco da questão central. A questão central é o nível de segurança de um sistema educacional que deveria ser garantido pelo governo através de políticas e processos que assegurassem o recebimento do fruto do investimento (pessoal e financeiro) feito por milhares de estudantes que não se formaram e nem vão se formar através da escolha que fizeram.
Educação e Mercado produzem uma mistura heterogênea e venenosa, em especial num país que depende de profissionais competentes para se desenvolver. É preciso urgentemente que se corrija a miopia do olhar do governo para essa questão.
Publicado no Jornal O DIA (RJ) de 18 de janeiro de 2014.