Júlio Furtado
Cresci esperando pelo final do ano com todas as magias que o momento oferece. Na infância, a expectativa era pela festa de Natal que sempre reunia toda a família em torno de uma mesa farta num clima de confraternização e muitos presentes. Na adolescência, a magia ficava por conta de encontrar os primos e ficar na farra até o dia clarear. Já na idade adulta, a magia persistiu como parte da organização da festa, da brincadeira de amigo oculto e da expectativa de estarmos todos com saúde dividindo os planos de um ano novo que sempre se anunciava como um bom motivo de esperança. Pela primeira vez na vida estou tendo que fazer um esforço para ser contaminado pela magia do fim do ano. Talvez essa seja uma boa oportunidade para deixar de acreditar em Papai Noel de uma vez por todas e pôr em prática a velha lição que nos ensina que quem sabe faz a hora e não espera acontecer. Já sorteei alguns amigos ocultos e independente de gosto ou valor do presente, já decidi que darei junto uma mensagem de otimismo sem firulas ou tons de autoajuda, uma mensagem que ainda não escrevi, mas que diga de forma convincente: “siga em frente que tudo vai passar”. É estranho desejar Feliz Natal e Próspero Ano Novo para quem está desempregado. Eu sei que sempre existiram desempregados nas passagens de ano, mas confesso que nunca vi tantos a minha volta e tão próximos de mim. Busco diariamente no noticiário indicadores de melhoria que possam temperar minha ceia de Natal e dar crédito aos meus votos de um Feliz Ano Novo. Até o momento não encontrei e já estou pensando em ensaiar um tom teatral de um personagem qualquer supostamente contaminado pela magia de um final de ano normal. Recebi, pelo Whatsapp, uma mensagem que diz que devemos desejar para o outro o suficiente para que ele siga em frente, nem mais, nem menos. Bebendo dessa inspiração, quero desejar um Natal de paz suficiente para que não nos acomodemos, de saúde suficiente para que não nos descuidemos e com a magia suficiente que nos permita a felicidade, mesmo sabendo que Papai Noel não existe. Desejo um ano novo de perseverança suficiente para não deixarmos de brigar por nossos direitos e de fé suficiente para atravessarmos mais um ano de pé acreditando na possibilidade de sermos felizes.
DEVANEIOS DE UM FINAL DE ANO EM CRISE