Artigo publicado no Jornal O DIA/RJ em 16/05/2015.
Júlio Furtado
Em meio a uma forte chuva e diante de um voo cancelado, estava eu no aeroporto, quando uma mulher de cerca de 40 anos, gritou no balcão: “Esse avião vai ter que decolar! Não vou perder meu compromisso por causa de incompetentes! Eu exijo que o avião decole imediatamente!”. Olhei para aquela figura que acreditava piamente que o seu problema era o maior, senão o único em meio a todo o caos que vivíamos, tentando entender o porquê de sua atitude descontrolada. A partir daquela cena, intensifiquei minhas reflexões a cerca da importância do desenvolvimento de competências socioemocionais e a cerca das consequências que a falta de tais competências ocasiona. Competências socioemocionais são aquelas que nos possibilitam colocar em prática as melhores atitudes e habilidades para controlar emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia, manter relações sociais positivas, tomar decisões de maneira responsável e suportar as frustrações ao ponto de não sermos deseducados com os outros. Pergunto-me qual o papel da Educação nesse contexto. Desenvolver competências socioemocionais é tarefa que precisa de um acordo claro entre escola e família. Outra pré-condição é que os educadores já tenham essas competências desenvolvidas. Por incrível que pareça não são raros os pais e professores que fazem “pirraça” com seus filhos e alunos, posicionando-se no mesmo patamar de desenvolvimento socioemocional que eles e intensificando conflitos que deveriam ser encarados como oportunidades para o processo educativo.Existem atitudes essenciais no desenvolvimento dessas competências. É necessário fazer com que nossas crianças e jovens conheçam suas emoções, saibam administrá-las e descubram maneiras de expressá-las de forma construtiva. Essas habilidades permitem lidar bem com o stress, controlar os impulsos e motiva a perseguir metas, ultrapassando quaisquer obstáculos que surjam. A escola precisa deixar claras suas crenças e valores a respeito dessa questão e construir, em conjunto com as famílias, um planejamento coletivo que envolva todos os agentes. Unificar ações que visem identificar e gerir emoções, controlar impulsos, lidar com situações frustrantes e colocar-se no lugar do outro são pré-requisitos essenciais para que nossas crianças não protagonizem cenas de onipotências fantasiosas em situações de caos que muito provavelmente viverão no futuro.