Júlio Furtado é professor e escritor
O governo de São Paulo decidiu colocar em prática um plano de racionalização das escolas estaduais, que tem como principal objetivo otimizar a utilização de recursos. Com isso, os alunos seriam agrupados por segmento de ensino, mais de 300 mil alunos seriam transferidos de escola e dezenas de escolas seriam fechadas. Essa notícia foi dada em outubro e professores, pais e alunos ficaram sabendo pela TV sobre a mudança. Imediatamente, professores e alunos fizeram protestos públicos sem nenhum sucesso. Foi a partir da ocupação de uma das escolas por um grupo de estudantes na periferia de São Paulo que o movimento se alastrou e em duas semanas, 200 escolas foram ocupadas pelos alunos como forma de protesto e resistência à atitude unilateral do governo. Depois de um mês de ocupação, o movimento sagrou-se vitorioso e o governador suspendeu a ação e se comprometeu em iniciar um processo de discussão com alunos, professores e pais. Por mais que partidos políticos e movimentos populares estejam tentando tirar proveito da situação, o mérito e conquista são dos estudantes que tiveram, com certeza, a principal lição de 2015. Eles organizaram aulas, oficinas e apresentações musicais durante a ocupação. Cozinharam uns para os outros com alimentos doados pelos pais e vizinhos e realizaram a manutenção rotineira dos prédios que ocuparam. Assim como os movimentos de 2013 que começaram pelos vinte centavos de aumento nas tarifas de ônibus, os estudantes não estão mais lutando apenas para manter suas escolas abertas. O protesto se tornou uma forma de expressar sua insatisfação com o ensino em geral. Nessa experiência os jovens contam que aprenderam a trabalhar juntos, a se organizar coletivamente para realizar uma tarefa, a valorizar o trabalho dos profissionais que fazem a escola funcionar e a construir argumentos fundamentados diante de uma negociação. Essas aprendizagens despertaram nos alunos o desejo de ter voz ativa e participar do processo de gestão da escola, que, no fundo, existe em função deles. Aos professores e gestores, resta não perder a lição. A escola pode ser um espaço de aprendizagens mais conectadas com a vida e elas estão além da sala de aula. Aprendamos por bem ou a lição de casa implícita será “invadam as escolas! ”