Júlio Furtado
Na última década, o número de analfabetos com 15 anos ou mais, caiu apenas 1%. Não precisa fazer contas para sabermos que em um ano não atingiremos a meta de 6,7%, tendo hoje um percentual de 8,7% de analfabetos nessa população. Priorizamos as crianças e esquecemos dos jovens e adultos que não passaram pela escola nas últimas décadas ou que passaram e não ficaram mais do que 2 ou 3 anos por lá. O que há de mais preocupante é que, se por um lado estamos tentando alfabetizar os jovens e adultos, por outro, estamos produzindo mais analfabetos. Cerca de 10% dos concluintes do Ensino Médio podem ser considerados analfabetos funcionais, ou seja, leem mas não entendem a mensagem do texto. Tomando-se o conceito oficial de analfabeto funcional (pessoa com menos de quatro anos de escolaridade), o número salta para mais de 30 milhões de brasileiros, considerando a população de 15 anos ou mais. O desafio da alfabetização de adultos passa pela superação de dois grandes entraves: a mobilização e a permanência. Não há leis que obriguem adultos a frequentar a escola, logo, convencê-los a isso é a grande tarefa. Temos visto diversas turmas de EJA (Educação de Jovens e Adultos) fecharem por falta de alunos. Algumas escolas fazem propaganda colocando cartazes na porta. “Hello! Eles não sabem ler!”. Alguns bons resultados tem sido obtidos com carros de som, mas a questão passa, também, pela vergonha e pela baixa autoestima dos alunos. O desafio da permanência esbarra no horário (em geral das 19h às 22h) que o aluno não consegue cumprir na entrada por chegar atrasado em função do trabalho e, na saída, por sair cedo de tanto cansaço. Precisamos criar horários flexíveis e práticas didáticas adequadas para adultos. O grande mestre Paulo Freire já nos apresentou o caminho, que por sinal já foi seguido com sucesso em vários países. Outro caminho promissor é a responsabilização crescente das empresas, motivada por políticas de incentivo de estudo paralelo ao trabalho. Os esforços precisam ser proporcionais à carência. Estão na Região Nordeste, 54% dos analfabetos adultos brasileiros e concentram-se no centro-sul a maior parte dos programas efetivos de alfabetização. Políticas como as cotas raciais e os programas de democratização do Ensino Superior já se mostraram eleitoralmente efetivas. Qual será o potencial eleitoral da alfabetização de adultos?Publicado no Jornal O DIA (RJ) em 1º de fevereiro de 2014.