Júlio Furtado
Uma Medida Provisória lançada em 22 de agosto causou um alvoroço nas redes sociais e nos meios educacionais, quando, de forma pouco democrática, flexibilizou o currículo do Ensino Médio, abrindo as possibilidades de torna-lo mais eficaz e mais próximo das necessidades da faixa etária de seus alunos. O alarde foi muito mais provocado pela forma como a reformulação foi apresentada e pela falta de clareza em detalhes essenciais como quais serão as disciplinas obrigatórias do que pela oposição à reforma em si. Ninguém, em sã consciência, pode aplaudir um modelo de Ensino Médio engessado, ineficaz e desconectado do contexto de vida dos jovens. Para os que ainda resistem, os dados são contundentes. Metade dos alunos que ingressam no Ensino Médio não o concluem. Há quase 20% de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola. O modelo enciclopédico que pressupõe que todos irão para universidade somente atende a quem pode bancar o Mercado das escolas que “preparam” para o ENEM, fazendo com que as universidades públicas continuem a ser reduto quase exclusivo das classes mais altas. Em síntese: um modelo falido quando se fala de um processo de Educação realmente democrático. A ideia de que menos é mais já está comprovada em diversos países que obtiveram e obtêm sucesso em seus sistemas educacionais. O Japão, recentemente, reduziu seu currículo em 30%. O currículo da Nova Zelândia equivale a 40% do que nossos jovens precisam estudar. Nossos alunos estudam dez vezes mais tópicos de Matemática do que os de Singapura, que por sinal de destacam muito mais nas avaliações mundiais nessa área. O grande desafio está em se instituir o que é essencial aprender. Outro modelo de sucesso comprovado são as trilhas curriculares que permitem ao estudante ir mais a fundo nas áreas que mais lhe interessam, incluindo aí a formação técnica para o trabalho. Essa possibilidade acompanhada de um competente trabalho de orientação de projetos de vida pode ajudar nossa juventude a encontrar sentido na escola e a se inserir no cruel Mercado de Trabalho. Não vamos fazer reforma, porém, com carência de docentes em várias áreas, sem escolas minimamente equipadas e sem melhorarmos a formação e as condições socioeconômicas dos professores. Lutemos por um ensino, no mínimo, médio.