Júlio Furtado
Texto publicado no Jornal O DIA/RJ
Sempre me incomodou o discurso acusativo da escola com relação à família. Essa postura ganhou força através de textos e frases de efeito nas mídias sociais que estão polarizando o processo educacional que, ao contrário, precisa buscar soluções de integração. É fato que a família vem falhando no cumprimento de seu papel de educar no contexto individual formador de princípios básicos essenciais a uma boa educação escolar que, por sua vez, é essencialmente coletiva, grupal e relacional. É real que a falta de limites das crianças e adolescentes ao chegarem à escola vem, ao longo do tempo, dificultando o trabalho, mas também é notório que a escola não tem feito grandes esforços para se reinventar mais efetiva e atraente. Os fatos evidenciam que em termos de se auto assumir e admitir as próprias fraquezas, a família está ganhando o jogo. São frequentes as cenas de mães que, ao serem chamadas na escola, admitem não saberem mais o que fazer e estarem precisando de ajuda. A escola tem afirmado que não consegue ensinar porque a família não está fazendo a parte dela. Diante das estatísticas que mostram que menos de 20 por cento das escolas conseguem fazer as crianças e adolescentes aprenderem o que deviam, só nos resta concluir que cerca de 80 por cento das famílias não cumprem o seu papel. Viajando nessa argumentação absurda, quero lembrar que nós, professores, também temos família e que somos parte dessa mesma estatística. Lembro uma vez em que chamei a mãe de um aluno totalmente sem limites para conversar. Essa mãe era minha colega, professora da mesma escola. A conversa foi difícil, em especial por ter-lhe provocado uma catarse. Após chorar muito e repetir que não tinha tempo para o filho por trabalhar em duas escolas, disse uma coisa que jamais esqueci: “É muito fácil somente acusar os pais. A coisa é muito mais complexa”. Não me contive e sugeri à colega que se lembrasse disso na próxima vez em que chamasse uma mãe de aluno para conversar. A escola tem que chamar a família num esforço contínuo de parceria e ajuda. É fundamental a postura apreciativa, que vê o lado cheio do copo e acredita na possibilidade de mudança. Falo aqui, acima de tudo, de um olhar generoso, pois afinal, somos todos família.