Júlio Furtado
Todos sabem que não devemos jogar lixo no chão, pisar na grama ou furar uma fila. Por que, então, alguns fazem e outros não? O que os diferencia é o valor que cada um dá a essas ações. Não basta ter o conhecimento. Um princípio só gera ação quando ele é revestido de afetividade. Educar para a aquisição de valores é propiciar essa relação afetiva entre a criança e o princípio. Esse processo somente ocorre através da vivência de um conflito. Aproveitar os conflitos para discutir princípios com a criança e não apenas punir é fundamental no processo de formação de valores.
O papel da escola nesse contexto é inserir os conflitos no currículo, o que significa atuar nas situações conflituosas com o objetivo de levar a criança a vivenciar situações organicamente desagradáveis de forma a interioriza-las. Essas experiências serão projetadas em situações futuras, fazendo com que a criança tenha referências na hora de decidir. Essa atitude leva a criança a construir um repertório emocional que dará condições para a construção de valores morais.
Uma questão que nos preocupa diz respeito à falta de habilidade da maioria das escolas em lidar com os conflitos. Parece que os educadores querem se livrar do conflito a qualquer custo. A escola preocupa-se primeiro em suprimir o conflito ao invés de administra-lo (se trazer brinquedos para a escola provoca brigas, é mais fácil proibir do que trabalhar o conflito). Outra questão preocupante é que os professores, em especial, não consideram trabalhar conflitos como parte de suas atribuições e tornam-se encaminhadores de alunos para a Diretoria (que em geral apenas aplica punições).
A escola precisa repensar esse caminho. Basta olharmos o comportamento de alguns adultos para entendermos o tamanho da urgência.